O Papel da Microeconomia no Crescimento Económico
Por Mário José Marmelo de Jesus em Nov, 28, 2008

É ponto assente que a ciência económica, responsável pela análise, interpretação e explicação dos fenómenos de natureza económica ocorridos na sociedade, deve também abranger os fenómenos de natureza social e humana.

Em face disto, há, por consequência, que designar a Economia também como uma ciência social que tem como finalidade, entre outras, o estudo do impacto que os fenómenos económicos representam no bem estar das famílias e, em sentido mais vasto, no bem estar do ser humano.
É nesta perspectiva que a Economia pode ser definida ou analisada através de dois vectores: um vector científico – técnico – económico, que diz respeito à interpretação dos fenómenos estritamente económicos, colocando à disposição dos cientistas económicos instrumentos e modelos de análise destes fenómenos, de forma a explicarem a realidade.
Um outro vector pode ser definido como cientifico – social, conduzindo este a ciência económica a práticas cujo objectivo final é contribuir para o bem estar do Homem, enquanto ser social, através da construção de soluções que conduzam ao crescimento e, consequentemente, ao desenvolvimento nas suas vertentes económica, social e humana, através de uma maior equidade na distribuição dos bens e recursos, conquista da liberdade individual, dignidade humana e maior justiça social.
Podemos ainda atribuir à ciência económica duas naturezas de factores: os de natureza micro económica - designados por microeconomia - e os factores de natureza macroeconómica – designados por macroeconomia, sendo certo que estes se complementam e preenchem os conceitos da teoria económica.
A microeconomia diz respeito às decisões dos agentes económicos considerados individual e parcelarmente e ao impacto que essas decisões têm nos mercados considerados também separadamente.
A microeconomia estuda, analisa, interpreta e acompanha os fenómenos económicos à escala segmentada dos mercados e sectores, em matérias como os preços praticados, as estratégias seguidas, as tecnologias disponíveis, os requisitos da mão-de-obra ou os sistemas de produção dos agentes económicos integrados nesses mercados.
Já a macroeconomia estuda, analisa, interpreta e acompanha o conjunto das variáveis económicas em termos agregados e não segmentados à escala do mercado ou do sector de actividade. Deste modo procura explicar fenómenos como a inflação, o valor e tipo de investimentos em termos agregados, o nível e a evolução dos salários face, quer ao produto nacional, quer à inflação, o consumo interno ou a produção nacional, procurando explicar as causas, inter- relações e efeitos das variações ocorridas nestas variáveis, para além do seu impacto no bem estar das famílias.
Muito se tem falado ultimamente, designadamente desde 1997, ano em que Portugal iniciou um processo de afastamento do seu nível de produtividade face à média da União Europeia e aos países que connosco concorrem mais directamente (como é o caso da Espanha, Grécia e Irlanda), sobre as questões ligadas a esta mesma produtividade. Creio que poderei afirmar sem grande contestação, pelo menos entre economistas, que a produtividade e, consequentemente, o crescimento económico, dependem de factores de natureza endógena e exógena.
Entre os primeiros, encontram-se, entre outros, o ritmo dos investimentos da industria em capital físico, a eficiência operativa dos sistemas de produção, a utilização mais ou menos eficiente de novas tecnologias disponíveis, o ritmo de inovação, investigação e desenvolvimento, a qualidade da gestão empresarial, a qualidade derivada da formação e motivação dos recursos humanos, a capacidade de iniciativa e disposição empresarial para assumir riscos e adoptar novas estratégias em termos de produtos ou mercados.
Ainda de natureza endógena posso citar a política fiscal e orçamental vigente, as políticas de estímulo ao investimento de natureza mais sectorial, que permitirão, no seu conjunto, contribuir com medidas de ajuda (ou constrangimentos noutros casos) ao sector empresarial.
No que diz respeito aos factores de natureza exógena, posso citar o ritmo de crescimento do mercado Europeu onde Portugal se insere, designadamente dos mercados internacionais com os quais o nosso país desenvolve de forma mais intensa as suas relações comerciais, o ritmo de crescimento dos mercados financeiros internacionais, o nível de desenvolvimento tecnológico desses mercados cuja tecnologia podemos importar, ou ainda o tipo de políticas mais ou menos expansionistas desses países, que condicionam uma maior ou menor abertura à importação dos nossos bens e serviços.
Em face dos factores considerados, é minha opinião que, no cenário actual da economia portuguesa, são os factores de natureza micro económica os mais determinantes para cumprir as metas e objectivos da produtividade e crescimento de forma sustentada.
Se é certo que a definição, implementação e desenvolvimento de políticas macroeconómicas, orçamentais, de investimento, salariais ou outras, se reveste de grande importância para o processo da produtividade, é igualmente determinante que o sector empresarial as saiba interpretar adequadamente e delas tirar partido no sentido de vir a adoptar as estratégias de crescimento e desenvolvimento empresarial necessárias à criação de valor.
De nada serve existirem boas políticas se estas não forem correcta e adequadamente interpretadas e implementadas pelas empresas e restantes agentes económicos, no sentido de se atingirem objectivos como a melhoria dos índices de eficiência, produtividade e competitividade.
Como a família, qualquer que seja o seu tipo e composição, que constitui a unidade base da sociedade humana, pelo menos nas sociedades actuais mais conservadoras, também a empresa deve surgir como a unidade básica produtiva da economia do país.
A capacidade de crescimento dessa economia é, por consequência, função da capacidade de produção e crescimento das empresas, unidades criadoras e geradoras da riqueza nacional.
Um exemplo da forma como este ciclo pode evoluir: O aumento da produtividade traduz-se em maior volume de vendas o que, em clima de eficiência laboral e produtiva, significará maiores lucros. Estes lucros ou são distribuídos pelos trabalhadores ou accionistas ou são reinvestidos. Se distribuídos produzem maiores salários ou rendimentos, se reinvestidos permitem efectuar mais compras a fornecedores e aumentar também o volume de negócios destes últimos e, provavelmente, dos seus resultados. Se alternativamente, forem investidos internamente, aumentam a capacidade produtiva e de crescimento das vendas, o que pode criar a necessidade de mais trabalhadores, o que melhora os níveis de emprego.
Com lucros crescentes, parte destes poderão transformar-se em aplicações e em depósitos nos bancos, que por sua vez os injectam na economia através de empréstimos a outras empresas que revelam necessidades de tesouraria, permitindo a estas melhorar o ciclo de tesouraria e exploração com os impactos positivos nas vendas e nos seus resultados.
Este ciclo de criação de valor por via dos aumentos de produção é também aproveitado pelo Estado sob a forma de receitas acrescidas por via da cobrança de mais impostos, quer sobre transacções (IVA) quer sobre rendimentos gerados (IRC). Por sua vez o Estado não retém o dinheiro, mas investe-o em projectos de investimento, obras públicas, políticas e serviços públicos em benefício dos cidadãos contribuintes. Este é um ciclo que, como recordo, teve o seu início na unidade empresarial.
Para reforçar o contributo da microeconomia no crescimento económico e no bem estar social resta-me ainda citar dois aspectos que considero igualmente relevantes: O primeiro prende-se, como sabemos, com o papel social e de natureza ambiental que as empresas devem cumprir. No aspecto social pelas preocupações de justiça laboral, bem estar e qualidade de vida dos seus colaboradores, para além de outras acções no âmbito do mecenato que queiram adoptar em prol da sua comunidade. No aspecto ambiental como instituições que respeitam regras de conduta em prol do bem estar da comunidade onde estão inseridas, através da adopção de sistemas produtivos não poluentes e de acções defensoras e protectoras do meio ambiente, elevando a sua imagem, marca e nome nessa mesma comunidade.
O segundo aspecto diz respeito a uma outra ideia que defendo, por outros igualmente defendida, e que sustenta que, só com gestores profissionais com formação e escola na gestão e na economia, porque mais aptos pela formação adquirida e pelo domínio dos instrumentos da ciência económica, é que as empresas reunirão as melhores condições de partida para caminharem no sentido do sucesso.

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